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AS PRÁTICAS ALTERNATIVAS NA PSICOLOGIA

Em nossa vida profissional sempre nos defrontamos com situações limites: a morte, a miséria, o belo, a dor, o drama e a tragédia. Essas situações muitas vezes nos levam ao desconhecido e à impotência diante da realidade. Paradoxalmente, são exatamente esses fracassos e a falta de respostas que movem a ciência e a vida e, em nosso caso específico, a produção de conhecimento em Psicologia. Esse posicionamento pressupõe uma construção do saber que permita operar no mundo de uma maneira transformadora.

 

A Psicologia enquanto ciência deve estar aberta às novas descobertas e contribuições, bem como produzir conhecimento em sua área específica. Contudo, uma produção científica e uma prática profissional conseqüente não podem ser confundidas com uma visão religiosa ou prática comercial. Esse posicionamento na Psicologia se contrapõe às práticas alternativas que surgem cada vez mais em nosso meio profissional e acadêmico, onde se apresentam como algo novo, “moderno”, dizendo-se em oposição a uma Psicologia que possui uma visão fechada e preconceituosa do ser humano.

No que se refere à religião e sua relação com as práticas alternativas e a ciência, pode-se levantar que o pensamento e a visão de mundo religiosa, diferentemente da ciência, trabalha com o mistério, onde uma parte daquilo que nos afeta já tem uma explicação e é visto e entendido como algo que vem de fora das relações humanas e sociais. É obra do divino, do inexplicável, e não de um problema ou de um enigma. É assim que muitas das práticas alternativas surgem: da falta de clareza do que é do campo da religião e do que é do campo da ciência. E o psicólogo adota em sua prática profissional um discurso e um fazer religioso, como se fosse científico. Essa situação se acentua diante do imponderável da vida, da morte e da impotência da ciência. Na verdade, são formas de expressão da religiosidade ou do pensamento religioso. E são muito aceitas porque tocam exatamente esses mesmos sentimentos naquele que está sendo atendido e se vê desvalido diante da impotência e, muitas vezes, da morte.

No que se refere à questão da prática comercial, essa contraposição existe, porque os critérios científicos devem ter demonstrabilidade, dentro de um discurso inteligível e aberto, de algo que possa ser utilizado também por outros cientistas e/ou profissionais na operação da realidade. Esse processo exige um determinado tempo, no qual os fatos são ou não comprovados, em um processo de maturação e desenvolvimento do pensamento que se desenvolve em um ir e vir na realidade concreta, naquilo que denominamos práxis. Pois bem, esse tempo se choca com a forma perversa de globalização em que vivemos, quando se exige uma resposta rápida, eletrônica, pronta, que na maior parte das vezes se constitui em uma aparente solução, na busca do alívio imediato.

O mal-estar, no entanto, mesmo que não esteja aparente, segue e se aprofunda. Este mundo regido pelo mercado e, por conseguinte, pela globalização perversa, apresenta-se de forma veloz e brilhante e traz, como diz Milton Santos, uma enorme quantidade de informação, ao mesmo tempo em que rompe os vínculos da comunicação. O sujeito tem produtos, mas deixa de ter trabalho e relações. É nessa esteira que surgem também muitas “psicoterapias” que oferecem soluções rapidíssimas. São “eletrônicas”, verdadeiros produtos globalizados.

 

Como conclusão, pode-se dizer que no mundo de hoje temos inúmeros problemas e não muitas soluções, sendo que a nossa vida é regida pelo mercado. Diante do desvalimento do sujeito e da dinâmica das relações sociais, confundem-se facilmente ciência e religião.

É assim que as práticas alternativas muitas vezes surgem misturadas com a religiosidade e o misticismo e também com o comércio. Elas muitas vezes atraem fortememente estudantes, psicólogos, pacientes e instituições em função de experiências e posicionamentos pessoais e não de uma ação calcada em comprovações cientificamente aceitas pela comunidade da qual faz parte o profissional. No que se refere ao comércio, sabemos que em uma sociedade onde o que for mais vendido, com o melhor marketing, e oferecendo a mágica solução, com certeza terá um grande consumo e por conseguinte uma maior renda e fonte de lucro.

Jorge Broide - psicólogo

Fonte: Jornal do Conselho Regional de Psicologia - 06 n. 121 mar/abr 2000.

 

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